Dizem por aí que tem coisa que nem Freud explica, e olha que ele é o pai e deus-todo-poderoso-da-psicanálise. Mas, Cisne Negro é o tipo de filme que só Michel Foucault explicaria com as suas teorias sobre loucura e sexualidade.
Cisne Negro conta a história de Nina Sayers, dançarina do New York City Ballet. Apenas mais uma na imensidão de ótimas bailarinas. Nina tenta se destacar e acaba conseguindo o papel principal na nova peça da companhia, O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. Nessa encenação, ela deve interpretar o Cisne Branco, representação da delicadeza e do puro, e também o lado oposto deste cisne, o Cisne Negro, representação dos valores mais intrínsecos e selvagens.
Nos treinos para a apresentação final, fica claro que Nina não tinha problema nenhum em interpretar o Cisne Branco. Disciplinada como uma bailarina deve ser, e fazendo jus ao papel de filha de uma também ex-bailarina, Nina tenta encontrar a perfeição em passos cravados e milimetricamente calculados, mas só encontra este ponto na loucura que atormenta a sua mente e na desordem que causa nos passos do ballet negro.
Conforme o desenrolar da trama, fica cada vez mais evidente esta loucura e o desejo sexual de Nina, com cenas de masturbação feminina e beijos calientes entre sua amiga e ao mesmo tempo rival, Lily. Há, também cenas onde espinhos e asas saem da pele da bailarina, imagens onde o vermelho do sangue contrasta com a iluminação, passagens onde por ora o sonho vira realidade e vice-versa... Em mistos de cenas longas, ora com muita luz e espelhos (típicos de academias de dança), ora com jogos de sombra e baixa iluminação, o filme induz quem assiste à experiência sensorial única.
Cisne Negro concorreu a 5 indicações ao Oscar incluindo o de melhor atriz com Natalie Portman. É óbvio que levou este e mais outros dois prêmios, o do Globo de Ouro e o Sag Award pela mesma categoria. Pudera. É inimaginável outra pessoa fazendo o papel de Nina se não Natalie. Mesmo questionada sobre a autenticidade das cenas de dança, a atriz incorporou o papel da bailaria e rodopiou (com louvor!) em 90% do filme, deixando sua dublê à deriva de outras oportunidades em outros filmes...
A cena final, tão intensa quanto a personagem, foi o ápice do filme. Ela dança o Cisne Negro com a perfeição que encontrou no descontrole. Tambores batem, a luz abaixa, o foco é nos olhos vermelhos da ira do cisne, os espinhos na pele tornam-se asas e ela voa... voa tão alto que suga o último ar que consegue e cai. Olha diretamente nos olhos do treinador e diz: “Foi perfeito. Eu senti.” Era isso. Ela só precisava sentir. E conseguiu.
Título original: Black Swan
Realizado por: Darren Aronofsky
Escrito por: Mark Heyman (screenplay), Andres Heinz (stoy/screenplay), John J. McLaughlin (screenplay)
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder
Género: Drama, Thriller, Fantasia
Duração: 108 minutos
Paula Fernandes
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