Sou absolutamente leiga em obras de arte, porém fui seduzida pelos quadros expostos no hall de exposições da Unicentro essa manhã. Gostei do que vi. Lá estão quadros pintados a óleo sobre tela do artista regional Felipe Soleiro. Detive-me a observá-los por algum tempo e tive a nítida impressão de que falavam comigo.
Detive-me um pouco mais em um deles. Este trazia a pintura de um manequim de costureira. Garanto leitor que esse manequim tem vida própria. Fui abduzida para dentro da tela. Vi-me envolta em vivências remotas. Tal a harmonia da pintura que se ouviam as vozes das mulheres que conversavam animadamente enquanto puxavam e repuxavam as sedas pomposas e delicadas das senhoras da nobreza que deveriam moldar-se ao manequim. Fitas métricas, agulhas, tecidos, mulheres, medidas, tudo parecia estar em sincronia.
Poderia ficar ali por horas em meus devaneios, mas segui. Deparei-me com a poltrona. Sim; uma poltrona. Antiga. De veludo. Sim, me pareceu ser de veludo. Havia traços de desgaste. Senti o peso dos anos. Nela se via a marca de alguém que recém havia levantado. O Avô? Sim, quero acreditar que sim. Pelo menos minha imaginação o via. Sentado há algumas horas pesadamente com seu grosso livro entre as mãos. Livro de capa dura, um dos exemplares da imensa coleção exibida na majestosa estante atrás da poltrona. Livros pesados, inteligentes, que por décadas ensinavam as gerações em crescimento. O Avô havia escolhido este em especial. O momento merecia pois era especial. Apesar de diário nem avô nem netinho abriam mão desse momento. Avô de tantos, lia ao pequenino um dos fabulosos contos de fada dos irmãos Grimm. Os olhos do menino cintilavam enquanto sua imaginação o levava para mundos de duendes, bruxas, sapos e rainhas. O ambiente estava impregnado pelo cheiro do véu cheiroso inalado lentamente pelo ancião enquanto as palavras capturadas dividiam espaço com o cachimbo de madeira nobre do velho professor.
Mas tenho que voltar. Tenho que voltar para minha realidade. Contemplo por mais alguns minutos o trabalho do artista e me despeço de meus personagens. Personagens criados em minha mente pela capacidade do artista. Não que necessariamente tenhamos compartilhado das mesmas palavras ou que eu tenha entendido as palavras outras, mas as respeitei e as admirei. KMD
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