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Paradoxos da Modernidade: tecnologia X analfabetismo

                                                                          
                                                                  Nincia Cecilia Ribas Borges Teixeira

A modernidade é construída dicotomicamente, pois ao lado de um progresso material impressionante, de descobertas e inovações tecnológicas, grande parte da população do globo permanece no mais completo estado de subdesenvolvimento e abandono, ao qual se pode acrescentar os efeitos perversos da globalização da economia e do mercado, geradores de uma nova forma de exclusão social, representada pela multidão de desempregados e famintos. Isso gera uma situação de angústia e perplexidade frente ao que se vê, embora se tente descrever e compreender o fenômeno, é difícil encontrar uma solução que transforme essa realidade.

A sociedade moderna é regida por novos comandos, por uma tecnociência computadorizada que invade o espaço pessoal substituindo livros por microcomputadores e, assistindo a tudo isso não se sabe onde se pode aportar. No entanto, o Brasil vive, ainda, um grande paradoxo, pois, na era atual, enquanto uma parcela da humanidade caminha para a consolidação de um mundo digital, a sociedade brasileira possui um alto índice de pessoas analfabetas.

O conceito de quem é analfabeto nas sociedades desenvolvidas está mudando rapidamente. No Brasil, analfabeto ainda é a pessoa que não "tem as letras", ou seja, não sabe ler e escrever. A estatística brasileira para essa classe de pessoa, que, evidentemente, fica completamente marginalizada em qualquer sociedade moderna, é vergonhosa: temos 16% de analfabetos completos (só para comparar, a Argentina tem quatro vezes menos).

No entanto, a coisa se agrava quando usamos o conceito de analfabetismo funcional, definido há algumas décadas atrás pela UNESCO: é analfabeto funcional quem, apesar de saber ler e escrever formalmente, não consegue compor e redigir corretamente uma pequena carta solicitando um emprego. Acho que não temos estatísticas no Brasil a respeito dessa classe de analfabetismo., Entretanto, em nosso país, considera-se oficialmente alfabetizado quem sabe escrever um bilhete simples; porém, existem estudos indicando que um indivíduo que não freqüentou pelo menos por quatro anos uma escola pode ser considerado um analfabeto de fato. Sem esses quatro anos para fixar as letras, a pessoa esqueceria o que aprendeu. Segundo Gilberto Dimenstein, “dentro desse critério, calcula-se que 41% dos brasileiros seriam analfabetos”.

 O analfabetismo é uma das grandes mazelas sociais, porque a alfabetização efetiva esta intimamente ligada à dignidade humana básica e ao exercício completo da cidadania de seu país e do mundo. Quem lê e entende o que lê, quem escreve e que entende o que escreve, terá como assegurar benefícios e alcançar seus objetivos, colaborando no combate das injustiças e posturas conservadoras, protecionistas e etnocêntricas.

Sem saber ler e escrever, efetivamente, não se consegue participar do que a modernidade é capaz de oferecer. O caminho, então, é combater todas as espécies de analfabetismo: o estrutural, o social, o digital, o cultural, sem excluir, é óbvio, o que se refere ao letramento da nação, assegurando o direito de todos à   busca da realização de seus desejos e necessidades,do contrário, teremos um apartheid , decorrente da própria modernidade.

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