A casa remete a uma arquitetura simples, do
campo, na era medieval talvez. Paredes brancas e piso bege dão espaço a móveis
rústicos de madeira. A janela é apenas um buraco quadrado na parede, sem ao
menos uma cortina, por onde não se vê nada além dos relevos no horizonte. Logo
abaixo da janela tem um balcão com vários objetos pessoais, dentre eles uma
grande escova de cabelo.
Uma mulher usando um
vestido longo e de mangas compridas pega a escova e vira-se à direita para
sentar-se em um pequeno banco com assento de palha de frente ao espelho. Para
ela, pentear seus cabelos longos em seu quarto é a melhor parte do dia. Depois,
vai dormir.
Voltando para casa,
uma jovem menina com longos cachos ruivos está com os olhos brilhando e um
lindo sorriso no rosto. Se sentindo determinada e confiante, ela decidiu que
vai contar para os pais que está apaixonada.
Ao adentrar no que
seria a sala da residência, seu pai, usando uma camisa branca e uma calça
cinza, está deixando o quarto do casal, onde a esposa encontra-se deitada na
cama. O corpo alto e forte e o olhar sério não intimidam a menina.
-Pai, eu preciso
contar uma coisa. Estou namorando a vizinha do bosque.
O sorriso permanece
no rosto e o brilho no olhar aumenta. Ao contrário disso, o pai capta a
surpresa, amarra a cara e começa a andar em direção a filha.
-Minha querida, a
melhor parte do dia para mim é quando eu coloco sua mãe sentada no banco de
frente para o espelho e bato nela antes de dormir. Vai ser um prazer colocar
você e sua namorada no banco também.
Os batimentos da
menina aceleram, brilho e sorriso somem. O horror instala em seu peito. Ela não
sabia que o pai batia na mãe. Não conseguia processar o que acabava de ouvir.
Em meio a um turbilhão de pensamentos, dois ganharam mais atenção. Fugir e
deixar a mãe ou ficar e matar o pai?
Acordei com o
coração acelerado também. Pude sentir exatamente o que a jovem sentiu. A
sensação desagradável foi passando e voltei a dormir.
Não sei qual foi a escolha
dela.
Texto: Marcelo Junior.
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