Você já ouviu falar em Film Noir? Ele é um estilo
cinematográfico que teve seu ápice entre as décadas de 1940 e 1950,
caracterizado pelo gênero policial, o film
noir é recheado de personagens cruéis e inescrupulosos que transitam em
ambientes sombrios e com certo ar de perversidade, efeito alcançado por meio da
fotografia lúgubre e da trilha sonora, que atua como uma prévia do que está por
vir.
Os enredos do film noir exibem uma rejeição pela busca do mundo perfeito, em
contrapartida procuram mostrar as maleficências em que mergulha a sociedade.
Nesse contexto surge o diretor Orson Welles e sua obra que pode ser considerada
o último noir clássico, A Marca da
Maldade.
Recheado de influências do barroco e
do expressionismo alemão, este filme de Orson Welles se inicia com um
plano-sequência onde vemos um homem plantando uma bomba em um carro. Essa cena
preliminar, aliada ao presságio apresentado com a trilha sonora, nos permite
saber que uma tragédia irá acontecer.
No melhor estilo noir, o enredo transcorre na fronteira entre o México e os Estados
Unidos, onde o carro da primeira cena explode logo após cruzar a fronteira. Com
uma iluminação de baixa intensidade e o uso de “close ups” nos personagens principais, somos introduzidos a um
submundo de crime, decadente e repleto de cinismo.
O policial mexicano Ramon Miguel
Vargas, que está presente em cena desde o plano-sequência inicial, decide
investigar a explosão que resultou na morte de um milionário americano, porém
logo se depara com o detetive local Hank Quinlan. Hank é um personagem ambíguo,
o detetive pouco confiável que no desenrolar dos fatos se mostra um homem
disposto a tudo para resolver o caso. Vargas e Quinlan rapidamente se
desentendem por questões éticas e pelo jeito nada convencional de Quinlan
conduzir o caso.
Susan, a esposa de Vargas, assume o
papel de “femme fatale”, outra
característica forte do film noir,
ela é uma mulher que se mostra destemida durante várias cenas, como quando
confrontada pelo gangster Joe Grandi, cujo irmão foi preso por Vargas. Susan
responde Grandi à altura, não se deixando intimidar e apontando sua
independência feminina.
No momento em que os personagens
principais chegam a um suspeito, Quinlan revela seu lado corrupto, plantando
evidências a fim de resolver o caso e condenar alguém, mesmo que esse alguém
não seja de fato o verdadeiro responsável. No transcorrer dos fatos entendemos
o porquê de Quinlan agir dessa forma, sua motivação vem do seu passado sombrio.
Sua esposa foi estrangulada e Quinlan se culpa por ter deixado o assassino
escapar. A partir deste momento ele cria um entendimento de que vale tudo para
condenar um criminoso. Ele acredita firmemente que seus métodos são
justificáveis e validos, como se a justiça estivesse sendo feita.
Quando Vargas descobre a relação
entre todos os casos fechados por Quinlan, ele se presta a desmascarar o
detetive. Enquanto ele procura provas e evidências que condenem o detetive, Quinlan
nos remete ao seu lado mais sombrio quando orquestra uma falsa orgia regada a
drogas com a intenção de desmoralizar Susan perante a sociedade e atingir
Vargas. O ápice desta cena está na morte de Joe Grandi, que é estrangulado por
Quinlan e largado ao pé da cama onde Susan está drogada, com objetivo de
incriminar a moça. O erro de Quinlan e triunfo de Vargas está no descobrimento
da bengala do primeiro pelo seu melhor amigo, o também policial Pete Menzies,
que surpreendentemente notifica Vargas de seu achado. Em conflito com a ética e
a amizade, Menzies acaba por ajudar Vargas em um plano para extrair uma
confissão de Quinlan.
Caminhamos então para o desfecho
final. Em uma tentativa claramente desesperada, Vargas tenta gravar uma
confissão de Quinlan, que bêbado, relembra Menzies de outros casos armados
pelos dois. Temos um final memorável na ponte, quando o famoso detetive
descobre que está sendo gravado, e atira no seu melhor amigo, sendo morto pelo
mesmo enquanto tentava, desesperadamente, acabar com Vargas.
A Marca da Maldade nos apresenta a competência de Orson Welles, tanto na direção quanto na
atuação. Nos leva a reflexão sobre a ambiguidade do ser humano, nos
apresentando um antagonista que era resumido como “Um policial ruim, mas um
homem extraordinário”.
Amanda Crissi
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