Carolina Maria de Jesus
Desconhecida para muita gente porém muito importante para nossa literatura,nascida em Minas Gerais, mais precisamente em Sacramento, Carolina Maria de Jesus catadora de lixo, escrevia sobre seu cotidiano e pensamentos em cadernos encontrados no lixo, esses que viraram um diário onde Carolina descrevia seus pensamentos, sobre seu cotidiano, a desigualdade, e as coisas que compõe a condição humana. Os erros gramaticais, livres de edição, talvez para mostrar o valor de seu conteúdo mesmo fora da norma culta, nos trazem uma literatura única.
Quarto de despejo foi seu maior sucesso, porém é um material difícil de ser encontrado em livrarias, mesmo Carolina sendo uma das escritoras brasileiras mais expressivas, sendo traduzida para mais de dez idiomas.
Em todo o material escrito por Maria (seis romances, cerca de 67 crônicas e mais de cem poemas, além é claro de "Quarto de despejo") vemos claramente sua opinião do mundo, desigual, discriminando isolando e ignorando a existência de minorias, a escritora então pode fazer com que seja ouvida a voz de quem ninguém ouvia, fazer com que vissem aqueles que eram invisíveis para a sociedade.
"Preparei a refeição matinal. Cada filho prefere uma coisa. A Vera, mingau de farinha de trigo torrada. O João José, café puro. O José Carlos, leite branco. E eu, mingau de aveia.
Já que não posso dar aos meus filhos uma casa decente para residir, procuro lhe dar uma refeição condigna.
Terminaram a refeição. Lavei os utensílios. Depois fui lavar roupas. Eu não tenho homem em casa. É só eu e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu sonho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir em favela."
Já que não posso dar aos meus filhos uma casa decente para residir, procuro lhe dar uma refeição condigna.
Terminaram a refeição. Lavei os utensílios. Depois fui lavar roupas. Eu não tenho homem em casa. É só eu e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu sonho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir em favela."
(Trecho de Quarto de Despejo, 1960)
A filha de Carolina, Vera Eunice, hoje professora, contou, em entrevista, que sua mãe aspirava a se tornar cantora e atriz.
Aos quase 63 anos, em 13 de fevereiro de 1977, Carolina faleceu, vitima de insuficiência respiratória.
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