A escritora Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946, numa favela no alto da Avenida Afonso Pena, como era uma área valorizada da capital, a população que lá vivia foi removida para outros bairros da cidade e da área metropolitana, para que novos prédios e ruas fossem construídos na região. Conceição carrega nas memórias acontecimentos e pessoas do seu tempo de infância, algumas vezes, participam de suas narrativas. Dona Joana, sua mãe, teve nove filhos, era doméstica e lavava roupas para fora, mesmo assim, encontrava tempo para lhes contar histórias que também fazem parte do acervo de Conceição Evaristo, que se diz nascida cercada delas. Enquanto estudava, a autora trabalhou de doméstica na capital mineira. Em 1971, formou-se professora no antigo curso Normal e depois se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi aprovada em um concurso municipal para magistério e, posteriormente, no curso de Letras na Universidade Federal daquele Estado. Conceição Evaristo é uma das principais escritoras da literatura Brasileira e Afro-brasileira atualmente, em sua literatura traz importantes reflexões sobre as questões de raça e de gênero, com o propósito de revelar a desigualdade e de recuperar uma memória sofrida da população afro-brasileira em toda sua riqueza e potencialidade. A obra Ponciá Vicêncio é o primeiro romance de Conceição Evaristo. Nela são narrados problemas do cotidiano das mulheres afrodescendentes sob um ponto de vista claramente feminino e negro.
RESUMO: A obra narra a trajetória de Ponciá Vicêncio, uma mulher negra, desde sua infância até a idade adulta. Ponciá mora com a mãe, Maria Vicêncio, na Vila Vicêncio, no interior do Brasil, onde vive numa população de descendentes de escravos. Seu pai e seu irmão trabalham no cultivo da lavoura da família Vicêncio, que é proprietária das terras onde todos moram e trabalham, ademais são donos do sobrenome dos habitantes da vila, como a família de Ponciá. A narrativa feita em flashbacks, descreve a infância da menina na vila junto da mãe e do artesanato com o barro que elas fazem. Narrado em terceira pessoa, somos levados ao íntimo dos personagens, assim, conhecemos a felicidade da menina Ponciá, que brincava de passar por debaixo do arco-íris com medo de mudar de sexo, segundo uma crendice popular, era diferente desde a infância, principalmente pela semelhança física com o avô Vicêncio. Este, quando escravo, teve um momento de loucura e grande indignação com a escravidão, mata a esposa e tenta o suicídio se mutilando, corta o próprio braço, esse braço cotó que desde pequena Ponciá imita, apesar de quando o avô faleceu, apenas era uma criança de colo, ela modela um boneco de barro idêntico a ele, que deixa mãe espantada e por esse motivo todos dizem que ela carrega a herança do avô. Depois de perder o pai, Ponciá parte para a cidade grande em busca de uma vida melhor, viaja de trem e ao chegar à cidade sem ter para onde ir, passa uma noite na porta da Igreja e consegue um emprego de doméstica. Durante o tempo que junta dinheiro para compra um barraco e trazer a mãe e o irmão para morar com ela na cidade, seu irmão Luandi decide migrar para a cidade grande, deixando sua mãe triste. Ao chegar na cidade, o rapaz arruma emprego de faxineiro na delegacia, com a ajuda do soldado Nestor, negro que conheceu ao chegar na estação de trem e serve de inspiração para Luandi, que sonha em ser soldado. A mãe, Maria Vicêncio, sozinha na casa, decide viajar pelas vilas sem rumo até que chegue a hora de encontrar os filhos. Nisso, Ponciá volta à vila buscar sua mãe e o seu irmão, mas não entra ninguém, apenas o boneco de barro do avô guardado no fundo de um baú, ao visitar Nêngua Kainda, descobre que encontrará a mãe e o irmão e cumprirá a herança. Ao retornar à cidade, ela se junta a um homem que conhece na favela, no início apaixonada, mas depois sofre agressões físicas, causadas pelo seu estado de apatia, que deu pelas perdas sofridas: a ausência dos familiares e os sete abortos. Enquanto isso, Luandi aprende a ler e escrever, ficando cada vez mais próximo de realizar o sonho de ser soldado. Conhece Bilisa, uma mulher negra, que veio para a cidade em busca de uma vida melhor, mas ao ser roubada na casa onde trabalhava, torna-se prostituta, os dois se apaixonam e fazem planos. No entanto, ela é assassinada brutalmente por Negro Climério, fato que interrompe os planos do casal. Anteriormente, Luandi empresta uma farda do soldado Nestor e retorna à vila para encontrar a mãe, mas não encontra ninguém, apenas uma pista: o sumiço do boneco do avô. Ele deixa seu endereço com Nêngua Kainda para que esta o entregue à mãe e retorna à cidade. Sua mãe, vai ao encontro dele na cidade grande, ao chegar na estação de trem, encontra um soldado e entrega o bilhete com o endereço do filho, o soldado era Nestor, que leva ela até a delegacia onde está Luandi. Na favela, Ponciá, delira com saudades do barro, decide retornar à cidade natal, e na estação de trem reencontra a família e retornam juntos para a Vila Vicêncio, onde Ponciá faz o cumprimento de sua herança ancestral, junto do rio, do arco-íris e do barro.
Referências
ARRUDA, Aline Alves. Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo: um Bildungsroman
feminino e negro. 2007. 106f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte.
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