Semana passada contei aqui no blog a lenda da Serpente da Lagoa.
Uma das minhas fontes, foi Murilo Walter Teixeira, personagem ilustre de Guarapuava.
Ele me cedeu uma crônica de sua autoria sobre a lenda, que foi publicada no livro “O Alferes e seu Cavalo Gateado”.
Resolvi compartilhar com vocês!
Domingo passado, encontrei-me com Nhô Terêncio em frente do Hospital São Vicente de Paula. Logo fui indagando a razão daquela postura carrancuda e inquieta e acrescentei se havia algum doente da família ali hospitalizado. Imediatamente contestou.
Uma das minhas fontes, foi Murilo Walter Teixeira, personagem ilustre de Guarapuava.
Ele me cedeu uma crônica de sua autoria sobre a lenda, que foi publicada no livro “O Alferes e seu Cavalo Gateado”.
Resolvi compartilhar com vocês!
Domingo passado, encontrei-me com Nhô Terêncio em frente do Hospital São Vicente de Paula. Logo fui indagando a razão daquela postura carrancuda e inquieta e acrescentei se havia algum doente da família ali hospitalizado. Imediatamente contestou.
–Não, não meu filho. Estou preocupado com a serpente aí da lagoa. Ouvi falar que a Prefeitura está ultimando projeto para esvaziá-la, limpar os entulhos e construir alguma ilhota bem no meio. Vai dar um rebuliço danado. Irão aviventá-la e os resultados serão funestos e imprevisíveis. Esta serpente que em lenda já azucrinou meio mundo com suas diabruras, quando dizem ter engolido algumas criancinhas, ter feito um estrago danado na Catedral, razão da mudança do campanário, e outras coisas mais. Agora podem alegar e talvez imputá-la como causa de alguma discórdia política. Veja aquele edifício em construção. A caixa d’água foi colocada ao lado para equilibrar o prédio numa eventual vibração. É um magnífico trabalho de engenharia, frente à possível movimentação do solo.
Não desejando demonstrar minha estupefação, comecei a tossir, tapeando com a movimentação dos pés e mãos como desculpa em esquentá-los frente ao friozinho reinante.
Ele percebeu minha atitude e meu ceticismo, e logo me convidou para encarar os fatos.
– Vamos até a beirada da lagoa.
Cuidadoso, ele não cortou caminho pela grama, mas, seguiu a via pavimentada.
–Veja as borbulhas que saem do meio do lago. Perceba que é um local circunscrito. É o lugar mais profundo. Vou prová-lo mais uma coisa. Deixe-me achar uma pedra.
Nhô Terêncio saiu a procura pela redondeza, só encontrando um pedaço de tijolo na construção do prédio. Demorou um pouco. Acompanhei seu deslocamento, mas também continuei a perceber as bolinhas formadas na superfície do lago. Deduzi serem gases que afloram frente ao movimento de algum peixe, e até mesmo da decomposição de resíduos orgânicos. Aproximou-se e disse: “Vou jogar esta pedra bem naquele local. Vamos ver se consigo acertar”.
Atingiu bem nas bolhas. E aí acontece um fato surpreendente. Ocorre uma movimentação da água, borbulhas gigantes se formam, respingos espalhados ao longe e uma barulheira esquisita, e acreditem, aquele pedaço de tijolo retornou próximo a nós, tal qual um bumerangue. Vi claramente quando caiu na grama perto de um cedro, zunindo no meu ouvido.
Até estou vendo o leitor com riso sardônico e amorfo, achando que perdeu tempo na leitura deste causo. Mas lenda que é lenda, para um bairrista incorrigível, tem que ter encenação.
No entanto, se desejar melhores esclarecimentos, ou mesmo apreciar um acontecimento semelhante é só procurar Nhô Terêncio e talvez algum motorista dos táxis ali estacionados, que certamente confirmarão. Outro indivíduo que pode dar pormenores deste e de outros fatos surpreendentes acontecidos nas cercanias da lagoa, é o Demétrio, que por longos anos foi enfermeiro do hospital.
– Seria bom prevenir os operários que trabalharão nessa obra. Reportagens, nem pensar. A serpente odeia fotografias. Os curiosos devem ficar bem distantes. Não vamos perturbá-la. Nossa Catedral está tão bonitinha, podem até deixarem de construir a nova.
Concluiu Nhô Terêncio bastante temeroso.
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