Autor
José de Sousa Saramago (16/11/1922 – 18/06/2012) nasceu
em uma aldeia ao sul de Portugal. Autodidata, antes dedicar-se unicamente à
literatura foi mecânico, serralheiro, desenhista industrial e também trabalhou como
gerente de produção numa editora, e em 1947 iniciou sua atividade literária com
o romance “Terra do Pecado”. Atinge a notoriedade em 1980 com a obra “Levantado
do Chão”, tida hoje como seu grande primeiro romance. Em 1998 recebeu o Prêmio
Nobel de Literatura com A Jangada de Pedra, sendo o primeiro autor de língua
portuguesa a fazê-lo.
Contexto Histórico
A
Jangada de Pedra foi publicada quando Espanha e Portugal passaram a integrar o
MCE – o Mercado Comum Europeu, hoje União Europeia. Tomando como ponto de
partida uma série de casos insólitos, Saramago expressa claramente o descaso
europeu ante as nações ibéricas. Neste contexto se instaura o realismo mágico
na narrativa como meio de transgressão. Ao servir de instrumento à navegação
exposta em texto, Saramago expressa assim a sua insatisfação em relação à
Europa.
Análise da Obra
Publicada em 1986, a obra de Saramago
elenca uma série de ocorrências sobrenaturais que culminam no apartamento da
Península Ibérica, que abandona a Europa ao tornar-se uma ilha enquanto se
desloca à deriva através do Oceano Atlântico. A narrativa, tomada num tom de
pressentimentos incertos e apocalípticos tem como ponto de partida a exposição
de casos insólitos que permeiam as suas personagens principais, casos os quais
se interligam no decorrer da narrativa que corre sobre o tempo psicológico.
O Oceano Atlântico é o espaço onde a
Península Ibérica perambula aos olhos de suas personagens principais: José
Anaiço, professor português sempre acompanhado de uma nuvem de estorninhos,
Maria Guavaira, moradora da Galiza que tem nas mãos um interminável fio de lã
azul puxado de uma meia, Joaquim Sassa, português do Porto, turista numa praia
ao norte de Portugal, o farmacêutico idoso Pedro Orce, espanhol da região de
Orce, e a divorciada da região de Ereira Joana Carda, protagonista que ao
riscar com uma vara o chão, dá início a série de acontecimentos que compõem a
trama da obra.
Usando uma crítica afiada e agressiva,
Saramago, ao excluir literalmente a Península Ibérica da Europa fazendo-a
navegar pelos oceanos de forma errante, faz-se valer do discurso irônico e do
realista mágico, quase partindo para o lado surreal da literatura, não
objetivando a dessacralização da história como já fez anteriormente em outras
obras, mas sim para questionar o porvir, através de diálogos com antecedentes
históricos expressos na intertextualidade, sugerindo uma solução para o futuro
configurado pela mítica de um novo mundo.
Toda a obra é remetida às diversas fases
da literatura portuguesa, percebidas no heroísmo e estoicismo do homem
português deslumbrado. A tradição camoniana tem forte presença inspiradora no
texto, dando-lhe apelo dramático e épico. A Península ostenta o papel de um
novo país, ou império, em busca de seu lugar no mundo. Enquanto vaga através do
oceano traz dentro de si uma analogia secundaria com o expansionismo do latim,
e em primeiro plano aponta o retorno de Portugal à navegação num sentido de
descoberta de novo mundo.
A longa viagem da Península tem seu fim
após descer em direção das Américas, quando ancora na costa do Novo Mundo,
chegando a uma nova terra em desenvolvimento, de cultura mais aberta em relação
ao purismo europeu, de povos nascidos da miscigenação da colonização, espanhola
e portuguesa.
Por fim, a narrativa da obra descreve
todo o caos instituído na Península a partir de sua separação da Europa,
elencando seus problemas políticos, a falta de alimentos, apagões e mesmo
alterações ecológicas, suscitando o prelúdio de um apocalipse dado em razão do
descaso dos países europeus e pelos movimentos marítimos da “jangada.
Referências:
SARAMAGO,
JOSÉ. A jangada de Pedra. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
De -
Felipe Soares
Por:
Diana Pretto
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