última captura antes do encontro. |
Como uma eterna curiosa, procurando ângulos distintos para minhas capturas, invado o lado oculto do palco, numa apresentação musical prazerosa. Não havia percebido antes, mas acontecimentos alheios me atingem muito de perto. Entendi isso quando percebi, no breu dos fundos, pessoas em movimento, alegres.
De início, não dei conta das suas áureas. Apesar de curiosa, estava focada em minhas atividades. Quando, finalmente, consegui enquadrar as luzes e sombras que tanto quis, relaxei e passei a receber mais do ambiente em que me encontrava. Em meio de muitos fios, perto de uma escada média e rara luz, percebi a dança dos corpos e o som abafado de risadas. Apesar do escuro, pude sentir o sorriso na alma daquelas pessoas. Eram um par. Um par de espíritos aconchegados e familiarizados com os bastidores. Não tenho conhecimento quanto suas experiências musicais, mas percebi com prontidão que o casal estava acostumado com os caminhos e não só com as chegadas.
Com instrumentos leves nas mãos, imitavam os cantores que viam por uma fresta nas cortinas. Seus pés livres, mesmo com o pouco espaço, riam tanto quanto as curvas de seus lábios. A cumplicidade era tanta que me afetou, puxando-me os cantos da boca.
Ao fim da música, tento sair de lá, discreta, para não atrapalhar o casal, mas tropeço em tamanha ternura e esbarro na moça, que não consegue esconder a gargalhada. Três risos se misturam no escuro e sapateiam para desatar-se.
Concerto os meus passos e atravesso o pequeno corredor que me leva à frente do palco, e percebo que as mil almas presentes brilharam, juntas, menos que as duas com quem esbarrei.
Texto e foto: Camila Germano Barp.
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