Pular para o conteúdo principal

Por trás do espelho

Cartaz do filme

O Jornalismo Cultural não tem uma data de nascimento específica, como bem diz Daniel Piza em seu livro intitulado “Jornalismo Cultural”. Aprendi que esta é uma área do Jornalismo dedicada a informar e opinar sobre bens culturais na sociedade, relacionando ao mesmo tempo com comportamentos, hábitos sociais, política e economia.
Mas o que é cultura? O que eu posso usar para opinar e relacionar com os comportamentos atuais? A animação Zootopia da Disney é cultura ou apenas um produto do nosso mercado cinematográfico?
Cito este filme porque me lembro de ter pensado em várias questões de identidade e personalidade enquanto o assistia com a minha família. Ele pode ser visto sim como cultura e relacionado com a nossa sociedade, ainda mais quando paramos para pensar que todo o filme trabalha com antropomorfismo, a atribuição de características humanas aos animais.
Entretanto, esta resenha não é do Zootopia, mas sim do mais novo filme do País das Maravilhas, “Alice através do espelho”. A estreia brasileira aconteceu no dia 26 de maio. Também da Disney, o segundo filme da franquia é dirigido por James Bobin (Os Muppets) e tem Tim Burton como produtor. Burton dirigiu o primeiro filme, com bilheteria de 4.295.178 milhões de ingressos vendidos no Brasil até 20 de junho de 2010. Este ano ele esteve no Brasil para a exposição “O mundo de Tim Burton”. O cineasta aproveitou a passagem para conhecer o carnaval carioca e assistiu de camarote ao desfile das escolas de samba.
O time de atores é formado por Mia Wasikowska (Alice), Johnny Depp (Chapeleiro Maluco), Sacha Baron Cohen (Tempo), Anne Hathaway (Rainha Branca) e Helena Bonham Carter (Rainha Vermelha). Cortem as cabeças!
Antes de assistir ao filme, estava conversando com a Tia Rose em Curitiba. Ela dava dicas para minha amiga de que as noras precisam ter uma boa relação com as sogras, porque com a própria mãe as noras irão competir quem faz uma receita melhor, por exemplo. Logo no começo do filme a Alice diz para sua mãe que não quer ser igual a ela. Alice é uma capitã de navio, aventureira e descrente do impossível, não uma dama como sua mãe. Às vezes me sinto muito parecido com meu pai e é difícil admitir isso. Somos criados a figura dos pais, mas queremos ser versões melhores, não é?
Uma mulher capitã? Os homens riem de Alice. Acontece que a personagem exemplifica claramente uma questão feminista, trabalhando com a figura da mulher solteira (correu do casamento no primeiro filme) e da mulher trabalhadora ocupando um cargo de liderança, libertando-se das amarras impostas pela sociedade e conquistando cada vez mais espaço com o tempo.
Tempo é um personagem importante em Alice através do espelho. Ele é o “vilão” da história. Alice precisa aprender que com o Tempo não se brinca. O Chapeleiro fica doente depois de relembrar a morte de sua família, então Alice planeja voltar no tempo para mudar o passado e salvar todos. Não vou contar nada comprometedor.
Quem também quer mudar o passado é a Rainha Vermelha, mas o Tempo, personagem, alerta que ela não pode olhar para ela mesma. Isso criaria o que seria um paradoxo da série “12 monkeys”, onde o encontro de alguma coisa do futuro com o passado “quebraria” o tempo.
Resumo da história contado, quero abrir espaço para comentar sobre a cena mais cômica do filme. Imagine quantos trocadilhos podemos fazer com o tempo. Agora imagine o Chapeleiro Maluco e seus amigos do País das Maravilhas tomando chá com o Tempo e fazendo trocadilhos com ele. É de perder a hora. Cada segundo vale a pena. Citando esses nomes, Horas, Minutos e Segundos também são personagens do filme.
O País das Maravilhas é um espetáculo à parte. Tudo padrão Disney de efeitos especiais. A própria forma de viajar no tempo é original no filme. A cromosfera, objeto que controla o tempo, se transforma em um meio de transporte com controles similares ao de um navio e o passado, presente e futuro são representados como ondas em cima e em baixo da tela, fazendo parecer com que a Alice está navegando pelos “mares da vida”.
Voltando ao passado o espectador e os fãs podem conhecer mais sobre o universo do filme e sobre as histórias das personagens. Podemos ver como foi a infância do Chapeleiro Maluco e os eventos que separaram as irmãs, Rainha Branca e Rainha Vermelha, além de descobrir como a segunda ficou má.
Toda a aventura serve para Alice aprender lições e saber aplicá-las em sua vida. Mais do que o Chapeleiro Maluco, é ela quem precisa aceitar que o tempo leva as pessoas. Uma das cenas é dela acordando em um hospital psiquiátrico, abrindo margem para dúvida: é tudo imaginação ou realmente existe o País das Maravilhas?

Você já assistiu ao filme? Quais foram suas impressões? Comente o que você viu por trás do espelho.

Texto por Marcelo Junior.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESUMO DA OBRA "VÁRIAS HISTÓRIAS", DE MACHADO DE ASSIS

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de família pobre e mulato, sofreu preconceito, e  perdeu a mãe na infância, sendo criado pela madrasta. Apesar das adversidades, conseguiu se instruir. Em 1856 entrou como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional. Posteriormente atuou como revisor, colaborou com várias revistas e jornais, e trabalhou como funcionário público. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Algumas de suas obras são Memórias Póstumas de Brás Cubas , Quincas Borba , O Alienista , Helena , Dom Casmurro e Memorial de Aires . Faleceu em 29 de setembro de 1908. Contexto Histórico Várias histórias foi publicado em 1896, fazendo parte do período realista de Machado de Assis. Os contos da obra são profundamente marcados pela análise psicológica das personagens, além da erudição e intertextualidade que transparecem, como por ex., referências à música clássica, a clássicos da literatura, bem c

Pintores Paranaenses

A partir do século XIX, a pintura passou a se desenvolver no Paraná, incentivada por pintores como o imigrante norueguês Alfredo Andersen, e Guido Viaro, o segundo vindo da Itália. Ambos dedicaram-se ao ensino das artes visuais, além de pintarem suas obras inspiradas principalmente nas paisagens e temas do cotidiano paranaense. Responsáveis também pela formação de novas gerações de artistas no estado, como o exemplo de Lange Morretes, Gustavo Kopp e Theodoro de Bona, todos nascidos no Paraná. Alfredo Andersen, apesar de norueguês, viveu muitos anos em Curitiba e Paranaguá, e ainda hoje é tipo como o pai da pintura paranaense. Foi ele o primeiro artista plástico atuar profissionalmente e a incentivar o ensino das artes puras no estado. Ele se envolveu de forma muito intensa com a sociedade paranaense da época em que viveu, registrando sua história e cultura. Rogério Dias, outro grande exemplo, sempre foi autodidata, sua trajetória artística tem sido uma soma de anos de paciente

“Esta terra tem dono!”

Do alto, o Cacique Guairacá observa a cidade. Imortalizado em bronze, junto ao seu lobo, ele vigia os moradores e dá boas vindas aos visitantes. Sem dúvida ele é o símbolo de Guarapuava, que traz suas raízes indígenas estampadas até no nome. Uma das vertentes históricas, afirma que o Cacique Guairacá, viveu por estas terras em meados do século XVII. Nessa época, o tratado de Tordesilhas dividia a América do Sul ao meio (ou nem tanto) e Guarapuava se situava em terras espanholas. E como toda grande colonização desta época, havia a opressão indígena – seja a escravização por armas ou pela catequização, tiveram sua cultura esmagada pelo cristianismo europeu.  E também como no Brasil inteiro, houve resistência por parte dos índios. Mas ao contrário do resto da América, aqui tinha o Cacique Guairacá, que complicou muito a vida dos colonizadores.  Armado com lanças e arco e flecha, ele comandou embates aos berros de “CO IVI OGUERECO YARA!” (ou “Esta terra tem dono”). E o