“Hoje eu não tenho nada, mas nunca
deixei de fazer o que quis”, diz o músico.
Por
Douglas Kuspiosz
Simples.
Essa palavra o define. Entrevistei-o em seu estúdio, alguns metros de sua casa.
Sempre sereno, com o violão em seu colo, tocava alguns acordes para tentar
lembrar do artista que falara alguns segundos antes. “Inofensiva meu amor...
Como é? Ah, Antônio Carlos e Jocaff!”, dizia ao lembrar dos músicos. Marcos
sempre foi apaixonado pela música brasileira. Em sua casa, com uma música de
Chico Buarque tocando ao fundo, não hesita ao citar Elis Regina como a maior
voz feminina do Brasil. “Para mim, no Brasil, a Gal Costa é a quinta melhor
cantora. A primeira, segunda, terceira e quarta é a Elis.”
Sua
identidade musical surgiu aos poucos. Sempre gostou de música popular. “Assim
como hoje, na época tinha cantores pops, e eu gostava de cantar isso”, fala,
mas, não hesita ao criticar a música pop atual. “Ivete Sangalo, por exemplo, eu
acho um lixo”.
Marcos
conta sua história com um misto de alegria e de saudade. Lembra de seus
parceiros e não deixa de sorrir ao falar de Hermes Kaminski, seu maior aliado
na música. “O Hermes é um dos maiores poetas que conheci na vida”. Mas, além de
Hermes, Marcos teve outros parceiros, tocou em outras cidades e tem muita
história para contar.
Marcos, quando você
começou a ganhar dinheiro com a música?
Marcos: Eu estreei como
músico aos 16 anos de idade. Já comecei a ganhar dinheiro, a ser profissional.
Durante bom tempo da minha vida eu trabalhava durante o dia, estudava à noite e
nos fins de semana tocava. Isso tudo na década de 1960 e 70.
Quais foram as
principais bandas que você participou nessa época?
M: Eu gostava de música
popular. Assim como hoje, na época tinha cantores pops, e eu gostava de cantar
isso. A primeira banda que eu toquei tinha um gaiteiro, um saxofonista, mas
minha vontade era tocar em uma grande banda de baile que tocasse música mais
popular. Participei dos Monzas aqui em Guarapuava, no Apolo 7, que era uma
banda muito boa e etc.
Chegou a ter uma banda
sua?
M: Sim, montei uma
banda, Novo Testamento.
E como era?
Era uma banda de baile,
apesar do nome. A gente trabalhava aqui e no Paraná todo, tocávamos música para
dançar. Tinha seis componentes.
Quando você começou a
formar sua identidade musical?
No começo dos anos 1980
eu saí de Guarapuava e fui pro Rio de Janeiro Aí comecei a trabalhar em casas
noturnas. Foi lá que tive contato com o samba, a bossa nova e principalmente a
música popular. Isso foi bom, porque a partir daí eu comecei a formar uma
personalidade musical, que até hoje é baseada nesses três gêneros.
E quais músicos que
mais o influenciaram?
A música mineira teve
muita importância porque eu morei em São José dos Campos, que é praticamente
divisa com Minas. Foi então que conheci todo o repertório do Milton Nascimento,
Fernando Brant, Beto Guedes, todos os mineiros legais dali. Também tive
influência de Chico, Caetano, Gil, Tom Jobim e as boas bandas de rock como Led
Zeppelin e Beatles, que é a maior de todos os tempos.
Depois do Rio, qual foi
seu próximo passo?
Depois de algum tempo
no Rio, tocando em várias casas em Búzios, Arraial do Cabo, São Pedro da
Aldeia, Cabo Frio, eu fui para São José dos Campos montar um bar com um
amigo. Esse bar durou seis anos.
Como foi esse período?
Nesse bar nosso
principal produto era a música. Era meu e de um amigo que era baterista. A
gente cantava em dupla. Tinha convidados e tal, e nessa época o Chiquinho, o trompetista
do Jô Soares foi nosso sócio. Depois ele saiu do bar e foi trabalhar com a Elba
Ramalho. Ficou um tempão trabalhando com ela até ir pro Programa do Jô.
E quando você voltou
para o Paraná?
Depois de seis anos com
esse bar a gente acabou vendendo e eu voltei para Guarapuava. Aqui eu trabalhei
algum tempo no Barzinho do Hotel Atalaia e depois comprei o Flash Pizza Bar que
foi uma casa que marcou época em Guarapuava. Era legal porque na época o pagode
estava no auge. Nas quintas-feiras a gente fazia a noite do pagode, que era o
melhor dia da semana. Lotava!
Depois dessa época você
permaneceu por aqui?
Um tempo depois eu fui
morar em Faxinal do Céu para tocar nos bailes da Universidade do Professor que
funcionava lá. Depois disso fui para Maringá, onde montei uma banda de
casamento. Ficamos nove anos lá, tocando em muitas cerimônias e festas.
Finalmente voltei para Guarapuava com essa banda e trabalhei também na
organização de formaturas por um tempo.
Marcos, você também é
compositor. Quais foram seus parceiros?
Tive vários parceiros
importantes, entre eles o Olavo Rodrigues, de São Paulo. Aqui em Guarapuava o
meu principal parceiro foi o Hermes Kaminski. Fizemos músicas legais que
originaram o disco que gravei em 1991, um LP (vinil) com músicas minhas, do
Hermes, do Olavo e outros parceiros.
Como era ter o Hermes
como parceiro?
Difícil! O homem era
muito marrento. Dois "casca grossa". Ele era muito impulsivo,
temperamental e eu também não sou das pessoas mais boazinhas. A gente brigava
muito, apesar de se gostar e se respeitar. Para mim, o Hermes é um dos maiores
poetas que conheci na vida. Eu sempre disse que se ele quisesse seria um poeta
tão famoso quanto o Paulo Leminski, mas ele se dizia preguiçoso. Ele fazia
lindas poesias e contos mas não era muito dedicado. Só não se tornou conhecido
nacionalmente porque nunca quis se dedicar integralmente, apesar do grande
talento.
Você disse que começou
sua carreira nos anos 60, então, posso dizer que acompanhou toda a evolução da
música brasileira após a ascensão da Bossa Nova?
O bom de ser mais velho
é que tive a chance de ver nascer coisas importantes. Eu consegui acompanhei
toda a evolução da Bossa Nova. E junto ainda tinha a Jovem Guarda. Eu era
jovem, então gostava muito. Foi uma fase muito importante, cantei muitas músicas
da Jovem Guarda, Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
Agora falando do disco
que você gravou em 1991, como você o avalia?
Até hoje eu acho que
sou o único compositor guarapuavano que gravou um disco de MPB. As músicas,
modéstia à parte, são boas, é MPB mesmo. Eu gravei ele em São Paulo mas já
tinha voltado para Guarapuava na época. Tive apoio de pessoas, de empresas aqui
da cidade pra gravar, porque na época era muito caro. É um disco que me dá
muito orgulho por causa da parceria com o Hermes. Na minha opinião, sem querer
ser pretensioso, é um disco histórico.
Você
também chegou a produzir músicas comerciais, certo?
Ah, fiz sim...
bastante! fiz muitos jingles quando morava em São Paulo. Para empresas de
Guarapuava também . Produzi músicas para campanhas políticas para praticamente
todos os políticos importantes de Guarapuava: Nivaldo Krüger, Fernando Carli,
Cesar Franco, Cezar Silvestri, Vitor Hugo Burko...
Dá para viver de
música?
Durante um tempo eu
trabalhava durante o dia, e tocava à noite. De 1987 para frente eu comecei a
viver dos meus bares juntamente com a música. Dá pra viver sim, mas não para
ficar rico.
Como você avalia a
música no Brasil hoje?
Música comercial sempre
existiu, na minha época era a Jovem Guarda. Mas eu acho que a música popular
hoje tá muito nivelada por baixo, não existe criatividade. As músicas
sertanejas são todas iguais, a forma como os caras cantam é sempre a mesma. É
um copiando o outro! Falta criatividade, não sei se a culpa é dos compositores
ou da mídia. Mas é assim mesmo, por mais que hoje esteja pior, não dá pra dizer
que é o fim da picada. O importante é saber que sempre tem bons artistas, o
problema é que eles não tem espaço.
Você já disse que Gil e
Chico te decepcionaram. Por que?
Gilberto Gil é um
grande ídolo meu, mas eu tive uma decepção enorme com ele. Ele e o Chico
Buarque! O Gil foi ministro durante um tempão e não fez nada pelos músicos. Fez
por ele, pela família dele. Nós somos a única classe no Brasil que não tem
direito trabalhista nenhum, não tem direito a nada: fundo de garantia, férias,
décimo terceiro, seguro desemprego, nada! Só por que músico pode beber no
serviço não precisa de nada disso? Ele teve uma grande chance de fazer muito
pelos músicos e não fez. O Chico brigava contra a ditadura, a gente pensava que
ele queria a democracia, mas não. Ele sempre quis e até hoje pensa em instaurar
o comunismo, o socialismo no Brasil, que está provado que não funciona e ele
sonha com isso até hoje. O Chico tá parado no tempo também.
Esses problemas com as
pessoas como Gil e Chico não o impedem de apreciar a obra, certo?
Sim, não deixam de ser
grandes ídolos para mim. É só não misturar o artista com a obra, assim como
Caetano sempre fez. O Caetano nunca foi de política, e sempre esteve certo.
Qual sua opinião sobre
a lei Rouanet?
Tinha que acabar com
isso. Só serve para beneficiar quem não precisa. É igual banco. O banco só
oferece dinheiro para quem não precisa. Lei Rouanet é a mesma coisa: o cara não
precisa do dinheiro e eles arrumam. Quem precisa, como é o meu caso por
exemplo, que não sou famoso, que não tive a sorte de estourar, não tem apoio
nenhum do governo. Nem que faça um projeto e mostre para eles, não consegue, não aprovam. Só pra Chico
Buarque, Ivete Sangalo, que não precisam. E muitos desses artistas são muito
ruins, muitos não tem valor cultural nenhum. Ivete Sangalo, por exemplo, eu
acho um lixo.
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