Prática tem se popularizado nos
últimos anos e vem se tornando uma possibilidade de tratamento de diversas
doenças.
Por
Douglas Kuspiosz
Quando
se está lá, sentado no tatame, o objetivo é deixar que as preocupações sumam. O
cansaço, os problemas do cotidiano, a rotina cada vez mais frenética, tudo isso
deve desaparecer. A posição inicial é aquela que todos imaginam quando fala-se
em meditar: com as pernas cruzadas ou, com cada pé posto em cima da coxa
oposta. Os braços devem ficar sobre os joelhos, com as palmas das mãos para
cima e os dedos indicadores e polegares juntos. A partir daí é importante
tentar relaxar. É importante concentrar-se na respiração, e, para isso,
conta-se quatro segundos para inspirar e oito para expirar. A princípio você
nota que está contanto, mas, alguns segundos depois, tudo acontece
naturalmente.
O
mantra preenche a sala, de modo que pouco a pouco a sua percepção de que está
sentado e que, alguns metros dali, carros passam, muda. Você sente seu corpo
expandindo-se e esses detalhes não quase imperturbáveis. A instrutora ema
alguns momentos corrige a posição de alguém, ou fala coisas como “é importante
manter os olhos fechados para vivenciar”. Faz parte da prática.
Em
seguida, começam as posturas – e são inúmeras. Uma delas é a “postura da
criança”, ou “balasana”, onde alonga-se os quadris, coxas e tornozelos. Nela,
você deita-se sobre os joelhos dobrados, com as canelas no chão, e seu tronco
fica para frente. A cabeça é alongada para frente, podendo tocar o chão, e as
mãos ficam além dela. Outra, a postura da “ponte”, ou “dhanurasana” é
diferente: com a barriga para baixo, agarra-se as pernas e forma-se um arco.
Uma prática democracia
O
Yoga é democrático. Crianças, jovens, adultos e idosos: todos podem participar.
Vânia Toshiko Kawakami tem 70 anos – faltando alguns dias para completar 71 – e
esbanja disposição. Faz Yoga a mais ou menos quatro meses por insistência dos
filhos. Ela veio com 11 anos do Japão e seu português é claro. “Eu gosto dessas
coisas... eu já fazia exercício localizado há algum tempo, coisa de cinco ou
seis anos”.
Ela mistura-se com os
mais jovens no tatame e, não hesita em seguir as posturas que a instrutora
fala. “Eu tinha medo de começar por causa da minha idade, mas eu comecei
devagar e foi bem. Eu sei o meu limite”, lembra. Sempre sorrindo ela mostra os
braços quando diz que nunca teve qualquer dor após uma aula. “Desde o começo
ela sempre foi muito bem”, retruca a instrutora Maristela Souza, do outro lado
da sala. Vânia diz que não havia começado antes porque não tinha uma pessoa de
referência, alguém que ela soubesse que praticasse. “Mas agora minha cunhada que
veio de São Paulo me disse ‘Ah, mas eu estou praticando também’, e ela tem 86
anos. Então eu acho que não tem idade não”, termina.
E ao lado de Vânia,
Bianca Carraro Duda, alguns anos mais jovens – ela tem 22 anos – também já
integrou a prática em sua vida. Perguntei o que a havia chamado a atenção no
Yoga, e, determinada, respondeu que foi curiosidade. “Eu sabia que existia o
Yoga, que era um exercício físico. Mas ele é mais que um exercício, a prática
está ligada ao exercício, à respiração, à concentração, à prática corporal. Você
vai ao Yoga buscando conhecer alguma coisa, e eu fui para conhece-lo”, conta. Para
praticar Yoga é preciso encontrar-se, ter consciência de si mesmo, conhecer os
limites de seu corpo e ir além deles. “Todo dia estou conhecendo mais de mim e
da prática, não parou na primeira semana”, ressalta.
“A prática está
inerente em minha vida, eu venho para o Yoga e ele está integrado em minha
vida, faz parte de mim. E a prática não acontece só na aula, mas em todos os
lugares, em todos os momentos”, diz Bianca. E isso realmente acontece. A partir
do momento em que se percebe o que constitui a prática, nota-se que você pode
incluí-lo em diversos momentos do dia-a-dia. “Fora da sala, quando eu consigo
fazer algo que antes não conseguia, eu associo isso ao Yoga, essa busca por
conhecimento é constante.”
Benefícios
para o corpo e a alma
A história do Yoga
perde-se no tempo, mas sabe-se que surgiu na Índia. Lá existe uma imensidade de
escolas, templos e clínicas que ensinam, pesquisam e aplicam o tratamento. Aqui
no Brasil a prática chegou na primeira metade do século XX, com a vinda do
francês Swami Asuri Kapila (1901 – 1955). Swami pertencia ao Ramana Ashram
Internacional de Yoga e apresentou seus ensinamentos em um congresso no Rio de
Janeiro para mais de cinco mil pessoas.
Aqui em Guarapuava,
quase 80 anos depois do início das atividades no Brasil, Maristela Souza
continua levando a prática às pessoas. “O que a gente espera com o Yoga é
vivenciar, respirar. A primeira vivência que você tem contato dentro de uma
sala de Yoga é entrar em contato com você mesmo.”, explica.
A ida à uma aula pode
ser indicada por um médico, um psicólogo. Os benefícios já são conhecidos, mas,
quem se dispõe a praticar está atrás de algo que lhe faça bem. “Hoje o Yoga
está se tornando essencial para a vida diária. O objetivo é levar os
ensinamentos para sua vida, para que você o pratica em casa, no trabalho, no
trânsito... eu costumo dizer que você não faz Yoga para ficar calmo, mas para
ficar em equilíbrio”.
“Eu acho que o Yoga é
um alicerce para todas as coisas que você vem a fazer”, disse Maristela quando
perguntei-lhe sobre os benefícios. E eles são muitos, pois, a prática traz
alongamento, flexibilidade e principalmente, como já dito, respiração. Algumas
doenças que podem ser tratadas são o estresse, reumatismo, doenças nas
articulações. “Tem gente que se acidentou e que ao invés de fazer uma
fisioterapia prefere o Yoga, porque ele trabalha com o alongamento, com o
fortalecimento muscular”, finaliza.
E hoje em dia o
estresse está cada vez mais constante em nossas vidas. Trânsito, trabalho,
dívidas: são algumas causas desse mal. Nem mesmo os jovens estão livres.
Segundo um estudo publicado na Revista de Psiquiatria da USP, a Universidade de
São Paulo, 56% dos alunos vestibulandos que foram abordados tinham traços de
estresse e ansiedade.
Uma das alunas, Glória
Santos, ou “Glorinha”, como todos a chamam, conheceu a prática através do
Facebook. Segundo ela, seu interesse pelo Yoga surgiu a partir das experiências
que seu pai, que praticou Yoga durante algum tempo, contava. “Eu acabei ficando
curiosa e procurei um lugar pra praticar aqui em Guarapuava. Aí eu encontrei o
Núcleo de Yoga Ananda”, conta Glória.
Do mesmo modo que Vânia
e Bianca, Glorinha viu no Yoga uma forma de melhorar seu condicionamento
físico. “No primeiro dia tive alguma dificuldade em relação à elasticidade e
força, mas isso me motivou a continuar indo nas aulas e a evoluir”, explica.
Mas, acabou vendo no Yoga muito mais que uma atividade física. “Hoje o Yoga
significa muito para mim, como se fosse uma válvula de escape para eu poder
refletir sobre o mundo, sobre a natureza, meus ator e, por fim, ser uma pessoa
melhor”.
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