Theodore (Joaquin Phoenix) é um
escritor de cartas por encomenda e, estando em meio a um complicado processo de
divórcio, apaixona-se por sua assistente pessoal – um sistema operacional. Her
(2014), filme escrito e dirigido por Spike Jonze, é, em sua superfície, um
filme que trata do amor; porém, carrega em si uma carga de conteúdo que vai
além, discutindo temas como a efemeridade dos relacionamentos, o uso excessivo
de tecnologia e a solidão.
Sensível, tímido e constantemente
confuso com relação à vida, Theodore, quando não está trabalhando, passa seu
tempo em casa com seu videogame ou saindo com seus amigos Charles (Matt
Letscher) e Amy (Amy Adams), característica que, de certo modo, não o faz ser
um clichê de pessoa antissocial; ele, então, adquire o OS1, um sistema
operacional com inteligência artificial feminina chamado Samatha (Scarlet
Johansson). O relacionamento de Samatha e Theodore surge e se desenvolve de
forma gradual: num primeiro momento ela apenas faz sua função de assistente pessoal,
lendo seus e-mails, conferindo sua agenda, revisando seus textos e etc., porém,
aos poucos, cria-se um laço afetivo entre eles e então, Theodore percebe que
Samatha, muito mais que um simples sistema operacional, é capaz de desenvolver
sentimentos, entende-los e retribuí-los. Ela, ainda, mostra-se tão insegura e
confusa com a vida quanto os outros personagens, pois, em vários momentos,
questiona-se sobre sua existência, pega-se preocupada com o fato de não possuir
um corpo e a cada minuto do filme, evolui.
Há, também, a história do
relacionamento de Theodore com sua esposa, Catherine (Rooney Mara), contada
através de flashbacks que funcionam muito bem no filme e são necessários à
narrativa; é possível notar nitidamente os efeitos que a separação causaram a
Theodore; sua dificuldade de lidar com o fato é expressa quando eles se
encontram para assinar os papeis do divórcio e Catherine, após saber que ele
está se relacionando com um OS, diz que isso é resultado de sua incapacidade de
lidar com relacionamentos reais. Rooney Mara está muito bem nas poucas vezes em
que aparece em cena, seja nas cenas que remetem ao bom período do seu
relacionamento com Thedore ou quando as coisas já não estão bem – sendo aqui
uma personagem muito fria.
A sutileza é resultado da
cinematografia de Hoyte van Hoytema, composta basicamente pelas três cores
primárias. As cores pasteis fazem com que os cenários estejam de acordo com o estado
emocional de Theodore – este caracterizado quase sempre com cores de acordo com
o cenário.
O universo do filme é ambientado num
futuro relativamente próximo, e assim, toma certas liberdades em relação à
tecnologia, entretanto, permanece num período suspostamente próximo para que
ainda seja relevante e inevitavelmente amedrontador: até onde o uso da
tecnologia interferirá nas relações humanas? Ao tratar desse tema o filme
acerta em cheio, afinal, estamos vivendo um período de desenvolvimento e
compreensão das ações da tecnologia dentro da vida humana – em muitas cenas do
filme vê-se pessoas com sua atenção totalmente centrada em seus celulares,
conversando com seus OS e cada vez mais deixando de lado a interação entre
pessoas. E isso está presente desde o primeiro momento do filme: Theodore
trabalha em uma empresa que “terceiriza” cartas, ou seja, que escreve e envia
cartas por encomenda. Porém, essa (in)relação humana não é total e, o filme, já
no terceiro arco, tem um desenrolar consideravelmente otimista.
Um dos pontos negativos foi a
substituição de Samantha Morton para o papel de Samatha. Apesar de ser uma
personagem que se expressa apenas através de sua voz, o fato de ser uma voz tão
característica como a de Scarlet Johansson tira um pouco da capacidade
imaginativa do expectador. Assim, constantemente, é possível pegar-me com a
imagem da atriz em sua mente.
Em suma, Her é um filme delicado,
bonito e propõe, muito mais que uma simples história de amor, uma série discussões
sobre o uso da tecnologia no século XVI; Spike Jonze, já conhecido pela direção
de Being John Malkovich, desenvolve o filme sem grandes problemas, exceto no
terceiro ato onde o filme, de certa forma, termina de forma simples; os dois
pontos fortes são o roteiro e o elenco que, mesmo sendo bom, poderia ser um
pouco melhor aproveitado – como a personagem de Amy Adams, por exemplo, que
estava muito bem em American Hustle (2013) e aqui deixa a sensação que poderia
ser melhor aproveitada.
Texto: Marina Pierine
O filme de Jonze não é uma crítica didática e revoltada sobre as relações cibernéticas do mundo de hoje, embora haja certa acidez na abordagem de Jonze sobre esta questão. Scarlett foi maravilhosa no filme, é uma atriz preciosa que geralmente triunfa nos seus filmes. Recém a vi em A Noite é Delas, inclusive a passarão em TV, sendo sincera eu acho que a sua atuação é extraordinário, em minha opinião é a atriz mais completa da sua geração, mas infelizmente não é reconhecida como se deve.
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