Carolina Maria de Jesus escreveu os diários que compõem a obra entre 1955 e 1960, quando foi finalmente editado e publicado pelo repórter Audálio Dantas, que havia sido encarregado de escrever uma matéria sobre a crescente favela ao redor do Rio Tietê, o Canindé, e acabou por encontrar a escritora e também catadora de papel. Os textos foram produzidos sob o governo de Juscelino Kubitschek, o espírito de “50 anos em 5”, a construção de Brasília e inúmeras outras obras simbolizavam a expansão e crescimento da infraestrutura do Brasil, no entanto, assim como o país se desenvolvia, mais e mais pessoas eram marginalizadas e aglutinadas em favelas sob condições miseráveis, vide o Canindé, lar de Carolina Maria de Jesus e os sofrimentos que relata em seus cadernos.
Resumo da obra:
Quarto de despejo (1960) consiste de um compilado de diários editados por Audálio Dantas, escritos por Carolina Maria de Jesus de maneira intermitente ao longo de 5 anos (entre 1955-1960). Carolina criou sozinha 3 filhos: João José, José Carlos e Vera Eunice na favela do Canindé trabalhando como catadora de papel, e vendendo materiais recicláveis, apesar de ter estudado apenas 2 anos, ela prezava muito pela educação dos filhos e os fazia ir à escola mesmo com medo da violência da favela. Nunca foi casada por escolha, ela retrata dois envolvimentos amorosos (Manoel e Raimundo), não fica com nenhum pois afirmava que conseguia sustentar os filhos sem precisar de homem nenhum. Outro traço sempre presente nos diários é a fome, Carolina muitas vezes sente-se doente e fraca devido à pobre alimentação, ou às vezes nenhuma; fome que deixa o mundo triste e amarelo, segundo a escritora. O leitor se sente tocado ao ver a angústia de Carolina por não conseguir juntar dinheiro o suficiente para comprar comida para alimentar os filhos, e emociona-se igualmente ao ler sobre a felicidade estampada no rosto das crianças quando a mãe conseguia comprar arroz, feijão e carne. Em momentos de maior dificuldade, quando não havia dinheiro algum, a família comia restos encontrados no lixão. Além de seus próprios sofrimentos, Carolina escreve sobre a realidade na favela, ela toca em assuntos presente no seu cotidiano, como a violência doméstica, muitas vezes causada pelo alcoolismo, e brigas entre vizinhos. A escritora, como sempre foi contra todo tipo de violência sempre chamando a polícia era chamada pelos vizinhos de intrometida. Carolina Maria de Jesus, preocupava-se com a situação político- social do país, falando em nome de todos os marginalizados do país, seus diários são a melhor descrição de realidade das favelas brasileiras da época (ou até mesmo das atuais). Após a publicação de Quarto de despejo (1960), que foi traduzido para 13 línguas, Carolina mudou-se para uma casa no subúrbio, e se por um lado Carolina conquistou o apreço dos leitores com sua escrita ora coloquial, ora rebuscada, conquistou também o desprezo de seus vizinhos do Canindé por escrever “coisas ruins” sobre eles.
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