Diz a música “Lá vem o velho trem, que atravessa o Pantanal...”
Mesmo não atravessando
o Pantanal, homens fortes cortam o morro para dar passagem aos trilhos do
progresso na região Centro Oeste do Paraná. Força braçal, suor correndo na
testa para assentar os dormentes que sustentariam a estrada de ferro. Na
entrada da primavera de 1945, o pequeno povoado de Góes Artigas
acompanha o movimento frenético dos operários para terminarem o trajeto ate a
nova Estação. Ponto de parada da grande Maria Fumaça, que nos anos seguintes,
seria o principal meio de locomoção dos moradores para a cidade de Guarapuava.
A lenha empilhada a beira dos trilhos esperando que alguém os forneça como
energia para a fornalha sedenta da máquina, lembra uma fogueira de São João. O
gigantesco tanque de água despejaria suas águas límpidas para matar a sede do
gigante de ferro.
Como pintadas em
quadros de arte, as recordações daquela época, aparecem estampadas nos olhos de
dona Rosa. A senhorinha, moradora do pequeno vilarejo de Góes Artigas, lembra
com saudade daqueles tempos. Parada na estação, novinha em folha, apurava os
sentidos para ouvir o apito do trem. A quilômetros
seus ouvidos atentos eram capazes de identificar quem era o maquinista, somente
pela forma de apitar. Ele encarregado de levar seus passageiros até a cidade,
para o compromisso tão especial daquele dia, desenvolvera uma linguagem toda
própria, para avisá-los que estava chegando.
Vestido colorido, fita no cabelo, bolsinha na mão, lá
vai a passageira às compras. Afinal, sair da rotina era um acontecimento,
requeria todo um preparo. Pequenos mimos eram cuidadosamente escolhidos para
agradarem aos que ficavam para trás na labuta do dia a dia. Por algumas horas, dona
Rosa escapava da realidade dura, marcada por muito trabalho e simplicidade. Em
suas lembranças o ar saudoso desses tempos inesquecíveis. Vagões largos e
confortáveis davam ares de importância aos passageiros que sentiam-se acolhidos
no balanço de engrenagens em movimento. Mas, não apenas aos passageiros serviria o
grande trem, pois a economia era acelerada com o transporte das madeiras que
compunham o ciclo econômico da época no qual expressões como buraco na camada
de ozônio e reserva legal ainda eram termos desconhecidos.
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