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De Amélia a Dilma: mulheres em transformação


Enquanto o homem e a mulher não se reconhecerem como semelhantes, enquanto não se respeitarem como pessoas em que, do ponto de vista social, política e econômico, não há a menor diferença, os seres humanos estarão condenados a não verem o que têm de melhor: a sua liberdade.” Simone de Beauvoir

 

 

Durante muitos anos, o homem dominou o espaço público e inviabilizou o crescimento intelectual e a divisão deste espaço com as mulheres. Diante de uma sociedade que ignorava o feminino, elas lutaram e, principalmente após a eclosão do feminismo nos anos 1960, diversas conquistas foram tomando corpo. O contraste com a era em que o gênero masculino dominava praticamente todas as relações sociais pode agora ser visto. Há algumas décadas, a mulher era relacionada a um ser cujas funções eram constituir família e se dedicar ao lar. Muitas que transgrediram esses costumes foram perseguidas e discriminadas. Muitas foram desvalorizadas no decorrer do tempo, exercendo atividades remuneradas inferiores às recebidas pelos homens. As mudanças, quanto ao feminino, começaram a surgir com o processo de modernização. Nessa época, milhares de mulheres entraram no mercado de trabalho, passando a exigir o seu espaço na sociedade. Dessa forma, puderam mostrar que tinha capacidade mental e condições físicas para realizar funções tidas, até então, como masculinas.

 Com o passar do tempo, as mulheres começaram a participar do mundo público, conseguindo ocupar postos importantes. Portanto, ser mulher, no século XXI, deixou de implicar, necessariamente, em maternidade. Tudo isso aconteceu graças à revolução feminista que viabilizou a feminização da cultura e ofertou às mulheres o direito à cidadania.

Muitos são os papéis desempenhados pela mulher atual, que além de trabalhar e ser reconhecida cada vez mais como uma profissional competente, cumpre, ainda, as funções de mãe e dona-de-casa. Essa mulher multifacetas, que se constrói na pós-modernidade, faz surgir um novo modelo feminino, do qual não se têm referências históricas. O caminho percorrido pela mulher tornou-se tortuoso. Muitas tarefas, preocupações, papéis, deveres estipulados pela sociedade para essa super- mulher. Deve ser linda, competitiva, inteligente, poderosa, amorosa. Desempenhar com perfeição os papéis de mãe, amante, dona de casa, super-profissional e, ainda, chegar aos 50 com tudo em cima. Sorrir sempre, ser otimista sempre, e ter aquele jeitinho feminino e intuitivo para resolver tudo para todos.

Todas as manifestações no Dia Internacional das Mulheres, sem dúvida são importantes e registram novos formatos no convívio social, mas não expressam padrões de comportamentos amadurecidos no sentido do reconhecimento pessoal ou profissional, além de preconceitos.

Se no século XX, as mulheres conquistaram os seus direitos, o século XXI será o século da conquista dos valores e da implementação desses direitos que se traduzem no acesso igual às oportunidades independentemente do gênero. Só a mudança da visão competitiva dos sexos, para a visão da sociedade que se constrói na harmonia dos gêneros permitirá à mulher assumir o seu papel como ser cultural na sua própria voz.

Que a figura da mulher não apenas seja lembrada e homenageada em dia específico, e que os projetos em favor das mulheres não apenas sejam apresentados na Câmara dos Deputados em Brasília nesta data comemorativa, mas que a conquista dos valores e da implementação desses direitos se traduzam no acesso igual às oportunidades independentemente do gênero.

 

Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira

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