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Mães adolescentes, o outro lado da história.

Seja aos 15, 18 ou 20. Ser mãe nem sempre é problema e mostra um novo jeito de ver a vida.
Foto da mãe, Taynara. 

Ser mãe sem planejar, mãe por um ou dois meses, mãe para sempre ou mãe que vê seu filho e logo esse é tirado de si. Ser mãe sem nem ter aprendido a ser filha. Ser mãe e descobrir que a vida é pra ser compartilhada e não vivida só. São muitas as formas de aprender o significado da palavra mãe, que com apenas três letras muda a vida de qualquer menina, qualquer mulher.
Brincar com carrinhos, bonecas, pula-pula e trocar fraldas virou rotina de muitas meninas de 15 a 21 anos no Paraná. No estado com aproximadamente 12 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE cerca de três milhões de mulheres engravidam, entre elas meninas que não terminaram os estudos ou completaram os 18 anos. Entre todo Brasil, cerca de 26,8% da população iniciou sua vida sexual antes dos 15 anos. Em 2010, 19,3% das crianças nascidas com vida são filhos de mulheres com 19 anos ou menos. No ano de 2009, 2,8% das adolescentes de 12 a 17 anos possuía um filho ou mais.   
Ao descobrir a gravidez são mil pensamentos entre ter ou não ter um filho, e para quem decide não ter as opções são poucas e as críticas muitas. No filme Juno, uma adolescente engravida e sua primeira escolha é doar a criança para uma família com condição financeira boa. Outro fator para quem decide que não quer ser mãe repentinamente é o aborto, que por não ser legalizado leva muitas meninas a correr atrás de pessoas sem nenhum entendimento e que pode não apenas tirar a vida do feto, mas da própria adolescente.
Nas propagandas, folders, blogs e nos próprios postos de saúdes só se vê métodos contraceptivos, dificilmente há um apoio às meninas que não interromperam o ciclo e tiveram seus filhos. A escolha de ter uma criança antes do planejado não é da própria adolescente, por isso o apoio, aulas de informações sexuais na escola e um plano para auxiliar o inevitável deveriam estar a dispor de todas as meninas e meninos no país. Sem esquecer, que muitas dessas meninas criam seus filhos apenas com o apoio de sua família, a maioria dos pais esquece que um filho não sai do vento e o garoto é que voa rápido pra longe da responsabilidade que acaba de receber.
Coronel Vivida é uma cidadezinha do interior do Paraná com aproximadamente 22 mil habitantes, onde agricultura é o principal meio de sobrevivência. São quatro histórias entre dezenas no munícipio, centenas e milhares no estado e país. São quatro de milhões pelo mundo todo. Janaina, 19, engravidou aos 15 do namorado, com o susto de estar ainda no primeiro ano do magistério “Eu já imaginava, mas foi um susto, demora pra cair à ficha que você vai ser mãe, ainda mais quando se é nova”, conta. A menina não sabia como se abrir com os pais, como desdobrar a situação e menos como cuidar de uma criança “O pensamento era de que minha mãe iria me matar. Quem contou para ela não fui eu, a minha ex-sogra foi à minha casa conversar com minha mãe. Não deu tempo nem de cair a ficha e quando eu vi ela estava lá”, recorda. Em sua mente percorriam o medo do parto, não saber segurar seu bebê ou não ter como conduzir a vida dali em diante. Janaina era mais um exemplo de como tantas meninas passaram a sentir-se com a mesma situação.
Em 2012, viu pela primeira vez sua filha. Todos os medos ligados a gravidez foram perdidos e agora são medos de que algum dia algo possa acontecer com Maria Luzia, a menina que mudou toda história de sua mãe. A partir do dia em que pegou pela primeira vez Maria no colo, Janaina teve certeza de que todos os seus planos, metas e obrigações eram ligados a sua nova família. “Muda toda sua vida, sua rotina, você passa a pensar primeiro no seu filho. Você perde de certa fora sua liberdade, mas não é uma coisa ruim”, explica.

“Ser pai, ser mãe.”
Tudo foi bem, a gravidez, o parto e principalmente a vida com uma nova pessoa. Em 2013 o inesperado aconteceu. Logo após voltar do colégio recebeu a notícia de que o pai da sua filha havia acabado de sofrer um acidente e falecer. A partir desse momento sim, o mundo da adolescente mudava por completo, com uma nova vida e a situação de ser pai e mãe.
“Duas amigas, duas histórias.”
Assim como Janaina, Taynara, 19, também engravidou enquanto cursava o magistério. Agora ambas são estudantes de Pedagogia na Unicentro. A rotina é puxada, trabalham durante o dia em uma creche e a noite estudam em Chopinzinho que fica a 20 km de Coronel Vivida, buscando uma formação e a chance de dar um futuro para suas famílias. Taynara engravidou aos 15 do seu atual namorado, “Quando eu descobri eu levei um susto, mas fiquei feliz”, lembra. Não abandonou os estudos nem quando a vontade era cursar Jornalismo, mas por ser em outra cidade pensou primeiro em Bernardo, seu filho, que atualmente tem dois anos, optando por algo que pudesse deixa-la perto do menino e ao mesmo tempo a programar um futuro com ele. “A gente tem que pensar antes neles, mas isso não é uma perca de algo, é bom”, explica.

“Os cuidados com o bebê.”
Cuidar de um filho não é tarefa fácil, principalmente quando não se conhece muito sobre isso e as vovós acabam sendo o auxilio para mães de primeira viagem. “Eu não posso reclamar nessa parte, não posso dizer que sofri para cuidar, minha mãe sempre me ajudou”, esclarece Janaina. “Eu também”, concorda Taynara. “Quando começa a chorar e você não consegue acalmar você não sabe o que faz”, continua. “Dá um medo de machucar, pegar, mas isso é só nas primeiras semanas, depois parece que você já teve uns três filhos porque acostuma”, acrescenta Janaina.
Foto da mãe, Taynara. 

“Outra mãe, mesmos sentimentos.”
Daniela, 24, engravidou aos 20. Mesmo sendo mais velha que Janaina e Taynara os medos não eram diferentes. “Dificuldades foram muitas, eu era muito nova, tinha que trabalhar, morava só com minha mãe, tinha acabado de completar o ensino médio. Sem falar que tinha mais a família dele que eu não sabia se ia aceitar o fato”, lembra. Durante meses guardou para si tudo que passava, foi com o tempo que admitiu estar grávida e a conviver com toda situação. “No começo eu não tinha coragem de falar que ia ser mãe, tanto que eu confirmei com seis meses minha gravidez. Eu não sabia como ia ser, como o pai ia reagir, achei que o mundo ia despencar sobre minha cabeça”, continua.
Hoje Felipe, seu filho, tem quatro anos, é a alegria da mãe e arranca sorrisos de todos que o conhecem. Os cabelos loiros, olhos claros e a pele branquinha são traços que não deixam negar: não é só no jeito que os dois se parecem e o amor de um pelo outro é demonstrado até pela forma que entrelaçam os dedos. “É a melhor coisa do mundo, é um amor puro, sincero, nunca mais me senti sozinha, é um pedacinho de mim” afirma.

“Aceitar meu filho”.
Quando o assunto é relacionamento, não há dúvidas, primeiro te que aceitar, gostar e saber lidar com a criança, depois com a mãe. “Primeiro a pessoa tem que aceitar o fato de que tenho filho, se ela for contra já não quero. Tem que pensar muito bem antes de colocar uma pessoa dentro de casa com tanta coisa que acontece hoje”, certifica Janaina. “Tudo muda e penso nele em primeiro lugar. Antes de qualquer coisa penso no melhor pra ele depois em mim”, assegura Daniela.

“Depoimento”.
“Quando descobri que estava grávida tinha apenas 17 anos e escondi a notícia enquanto pude, até que chegou uma hora em que os enjoos e a sonolência eram tão grandes que todos começaram a desconfiar. Não tinha coragem de contar para ninguém com medo da reação que teriam! A notícia foi um susto para todo mundo: família, amigos, colegas da escola e as pessoas com quem eu convivia. Ninguém espera esse tipo de novidade. Por várias vezes tive de enfrentar os olhares atravessados e as rodinhas de fofoca enquanto passava pelo corredor do colégio e isso algumas vezes me incomodava, mas era um incômodo passageiro, pois eu sabia que as pessoas mais importantes estavam do meu lado. As coisas foram bem difíceis como já é de se esperar que aconteça com a maternidade na adolescência, mas hoje em dia, quando olho para trás vejo que tudo foi aprendizado, construído com muito amor, paciência e apoio da minha mãe. Esse último item é sem dúvida o mais essencial de todos e o que não me deixou em momento algum perder as estribeiras ou abandonar meus sonhos! Mas o que aprendi nesse tempo de ser mãe jovem é que tudo é difícil, mas também tudo passa e tudo você aprende com o tempo. Só agradeço por todo sofrimento, porque hoje sou uma pessoa melhor e vivo e sempre viverei pelo meu filho. A gravidez na adolescência é algo que nem de longe recomendo a alguém. Mas se por um descuido isso acontece, não podemos ter outra posição que não seja encarar as coisas de frente e arcar com as consequências que qualquer decisão importante traz. No meio disso tudo, se tem uma coisa que aprendi desde os meus 17 anos é que o amor de mãe é puro, verdadeiro e incondicional. E por mais erros que cometamos, há sempre a chance de fazer as coisas se resolverem da melhor forma possível. Hoje tenho um companheirinho de quatro anos, que está sempre ao meu lado”, Polyana, 22.

“Conselho profissional”.
A gravidez na adolescência é um momento de surpresa para os futuros pais e para o resto da família, os familiares podem reagir de diversas formas como alegria, preocupação, medo, etc. Segundo o Psicólogo Maximiliano Silva confessar o quanto antes pode ser um alivio inicial. “A situação impacta na família toda e a adolescente precisa estar preparada para as divergências de opinião e sentimentos. Após a conversa com os pais a tensão pode se diluir com o apoio familiar e o planejamento começa”, recomenda. A família deve primeiramente perceber o momento pelo qual a adolescente passa e ajudar de forma física e psicológica, com ajuda de órgão de saúdes competentes públicos ou privados. “A gravidez pode ser distinguida como problema quando for indesejada, a ausência de assistência adequada da família pode conduzir a adolescente a vulnerabilidades de toda ordem”, explica.
É importante que a adolescente siga sua vida, seus estudos, planos e não desista das metas que possuía antes de descobrir a gravidez. “Creio que a gravidez na adolescência é um evento de vida e uma possibilidade de crescimento pessoal dentro desta nova perspectiva e não um desvio no desenvolvimento dito normal”, afirma.

Texto por: Sabrina Ferrari 

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