Como parte da cultura local, as lendas caracterizam-se como uma narrativa que busca contar fatos e acontecimentos comuns acompanhados de cenários fantasiosos, que mexem com o imaginário popular. Não se sabe ao certo como elas foram criadas, já que o real mistura-se com o extraordinário e novos dados são acrescentados ou até mesmo recriados com o decorrer do tempo.
Lagoa das Lágrimas
Foto: Marcelo Junior
Foto: Marcelo Junior
Uma das lendas mais contadas entre os guarapuavanos é a da serpente adormecida sob a cidade, cujo corpo estaria entre a Catedral e a Lagoa das Lágrimas. Segundo a crença popular, um monge andarilho chamado João Maria esteve em Guarapuava e, na época, os moradores não foram muito acolhedores, com receio de desconhecidos. O monge, então, teria “rogado uma praga” sobre a cidade, dizendo que as pessoas queriam progresso, mas não se preocupavam umas com as outras e que, ao primeiro apito de uma Maria Fumaça, a serpente que vivia debaixo da terra acordaria e destruiria a cidade.
A lenda teria se disseminado ao longo de gerações pelas pessoas mais velhas e o medo gerado pela praga do monge João Maria persistiu. Em meados do século XX, Guarapuava ficou isolada dos centros de comércio devido ao fim do tropeirismo na região, fazendo com que a construção de uma estrada de ferro ligada aos municípios próximos se tornasse necessidade para o transporte de produtos. Para a elite, a chegada do trem tornaria a cidade moderna, colocando-a no trajeto comercial até os grandes centros, sendo a ferrovia o meio pelo qual suas produções seriam dispersas. Já para os demais, os menos favorecidos e os mais velhos, a novidade era motivo de receio pelo medo do modernismo de ter um trem na cidade e, principalmente, por causa da praga do monge João Maria.
Como o fato não aconteceu, outra versão da estória foi inventada para que a lenda não se perdesse quando se começou a falar sobre a demolição da Igreja Nossa Senhora de Belém para a construção de uma nova. Se demolida, a serpente que dormia debaixo da terra, com o corpo que começa com a cabeça na Catedral e vai até a Lagoa das Lágrimas com sua cauda, despertaria enfurecida. Guarapuavanos que acreditavam na lenda impediram a demolição da igreja, acreditando, assim, que a serpente teria adormecido para sempre e a cidade agora estava a salvo.
E você, acredita na lenda da serpente?
Texto: Marina Pierine
nao
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