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Inclusão de Conceição Evaristo à Academia Brasileira de Letras é afirmação da intelectualidade negra

A Academia Brasileira de Letras é uma instituição literária fundada no Rio de Janeiro em 1897 por nomes como Machado de Assis, Olavo Bilac, Afonso Celso e Joaquim Nabuco.  Desde então, é composta por 40 membros efetivos e outros tantos perpétuos, os chamados imortais, mais vinte sócios estrangeiros.

Uma das mais respeitadas e longevas concentrações de intelectuais, a ABL ganhou vida apenas nove anos depois da abolição da escravidão no Brasil em maio 1888. Apesar de ter sido fundada e presidida pelo escritor negro Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras sempre foi um espaço de exclusão da intelectualidade negra, refletindo assim práticas ainda comuns de um país racista. Lima Barreto ouviu de Monteiro Lobato que não poderia fazer parte do clube porque era preto. Os tempos avançaram e ao longo do século a intelectualidade negra, especialmente na literatura, se viu obrigada a traçar caminhos paralelos, muitas vezes mais árduos. Realidade retratada com fidelidade em Quarto de Despejo, escrito por Carolina Maria de Jesus, então moradora da favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1960. Até hoje, considerado uma das principais criações literárias do Brasil. 



Quem também enfrentou dificuldades parecidas para fazer valer o seu direito de escrever foi Conceição Evaristo. Nascida na década de 1940, numa favela de Belo Horizonte, a mineira é filha de uma lavadeira, tal como Carolina Maria, mantenedora de um diário para anotar as dificuldades de um cotidiano complicado. Agora esta mulher negra, mãe e escritora que precisou conciliar o trabalho como empregada doméstica com os estudos, oficialmente pleiteia uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, podendo se tornar a primeira mulher negra do Brasil a atingir tal feito. Uma das autoras mais renomadas do país, Conceição, atualmente com 71 anos, ganhou projeção nacional e internacional muito tarde. Mas não o suficiente para impedir o levante literário negro impulsionado por nomes como o da própria Conceição, entre outras. A presença de Conceição Evaristo no desempenho deste complexo papel é imprescindível. Com sua voz mansa, mas não submissa, ela abre caminhos e conquista novos leitores com uma poesia equilibrista. 
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